A crise começa dentro do ser humano

Estamos vivendo momentos difíceis no país, como a crise política que desnorteou o povo brasileiro e o caso de uma moça que aparece na mídia vítima de um violento estupro. Alguém já se perguntou: O que está acontecendo?

Segundo C. G. Jung, § 431 “Somente com os fatos puros não se capta o sentido”. Esses fatos querem dizer que algo está fora do alcance da nossa racionalidade, está num âmbito mais profundo, que C. G. Jung chama de Inconsciente.

Muitos são os protestos contra a falta de ética do governo antes instalado ditado pela corrupção. [Etimologicamente, o termo “corrupção” surgiu a partir do latim corruptus, que significa o “ato de quebrar aos pedaços”, ou seja, decompor e deteriorar algo.]. E também protestos contra os homens que fizeram uso de sua força contra uma mulher [Etimologicamente o termo “estupro” procede do termo latino stupru que significa culpável e designa o ato sexual por meio de força e violência].

Que momento é esse que faz sair de dentro de cada ser humano o que é de mais primitivo?

Digo de cada ser humano me referindo àqueles que cometeram esses atos e àqueles que exigem o cumprimento de uma lei para punição dos culpados e não procuram olhar para dentro de si-mesmos e descobrir que cada um de nós não está isento do seu lado “demônio” que é nomeado por Jung como sombra e que é projetada nos réus.

Segundo Whitmont, 1991,§ 36 “O termo sombra refere-se àquela parte da personalidade que foi reprimida em benefício do ego ideal. Uma vez que todas as coisas inconscientes são projetadas, encontramos a sombra na projeção – na nossa visão do outro’”.

Podemos então considerar os dois episódios como um só e refletirmos sobre a nossa dificuldade de enfrentar esses “demônios” que estão dentro de cada um de nós levando-nos à crise de nossa personalidade.

Se ainda precisamos do “outro” para colocar leis que nos obriguem a manter “na linha”, estamos ainda inocentes de nossa capacidade de reagir e integrar nossa sombra. Mas só é possível sair desse estado infantil por meio do conhecimento dos aspectos profundos e diferenciar na integração dos conteúdos sombrios possíveis do inconsciente pessoal, o que é uma tarefa para os corajosos, confiantes e com atitude de integridade e dignidade no dia-a-dia.

Elizabeth Sartori – Analista Junguiana e facilitadora do curso de Psicanálise Abordagem Junguiana