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Persona

Persona

Quem sou eu?

Em essência, todos sabemos quem somos em termos de personalidade. Sabemos que crescemos filhos de tais pais com tais costumes, em tal cidade, em tal país, estudamos em tal escola que tinha determinados métodos e regras, e que tudo isso moldou nossa personalidade. E no decorrer de nossas vidas nos deparamos constantemente com o embate de nossa individualidade e nossa forma de pertencimento ao mundo. E é daí que surge a Persona. “[…] é o nome inspirado pelo termo romano para designar a máscara de um ator. É o rosto que usamos para o encontro com o mundo social que nos cerca. […] Significa a pessoa-tal-como-apresentada, não a pessoa-como-real.” (Stein, 2000, p.102)

Um pouco mais afundo, sabemos que somos seres sociais e que estamos em constante relação. Nascemos com um desejo inato de pertencer. Primeiramente, quando crianças desejamos a todo custo pertencer à nossa família, ser aceito por nossos pais, pois o “ser aceito” é acompanhado de amor, e todos, sem exceção, desejamos amor. Posteriormente, conforme vamos ficando mais velhos, temos o desejo de pertencer à um grupo, seja ele um trabalho, uma religião, uma banda, um time, ou qualquer outro. Mas, ao mesmo tempo em que desejamos pertencer, temos a ânsia por uma individualidade. Somos movidos por um profundo senso de desejo de expressão de algo único, que somente “eu” consiga expressá-lo.

A persona está diretamente ligada com nosso instinto de sobrevivência. Este arquétipo representa o rosto público que uma pessoa usará na sociedade com o fim de ser aceito e acolhido. Pois, assim como em nosso núcleo familiar, ser aceito e acolhido em uma sociedade proporciona várias situações que convergem em um estado emocional desejado. Mas o desenvolver e o se identificar com uma persona é um embate para a vida. Murray Stein cita em seu livro “Jung, o mapa da alma” que “a relação entre ego e persona não é simples, por causa dos objetivos contraditórios desses dois complexos funcionais. O ego movimenta-se, de um modo fundamental, no sentido da separação e da individuação, no sentido da consolidação de uma posição, primeiro que tudo, fora do inconsciente e, depois, também algo fora do meio familiar.
Há no ego um forte movimento para a autonomia, para uma “egoidade” que possa funcionar independentemente. Ao mesmo tempo, uma outra parte do ego, que é aquela onde a persona ganha raízes, movimenta-se na direção oposta, no sentido do relacionamento e adaptação ao mundo dos objetos. Essas são duas tendências contrárias dentro do ego – uma necessidade de separação e independência por um lado, e uma necessidade de relacionamento e de participação, por outro.” E a partir dessa tensão de desejos opostos, surge o que chamamos de sombra. Tudo aquilo que é reprimido pelo Ego e que não está em alinhamento com a persona utilizada no momento.

Gostaria de finalizar lembrando que a persona é uma instância psíquica que tem sua função. Vivemos em uma sociedade e dentro dessa sociedade é necessária uma Ordem para que ela funcione. Independente se os padrões atuais de aceitação social sejam rígidos ou não, opressores ou não, a sociedade é a manifestação psíquica de um consciente coletivo que fora criado por todos. Ela é como é, e está em constante mudança. Mas o que eu gostaria de enfatizar é que o ego não é a persona. O ego pode se identificar fortemente com uma persona, caso aquela persona o traga muitos benefícios pessoais. Mas em essência, não somos a persona, somos algo além de uma adaptação social e de um anseio por conquistas. Apesar de nosso desejo intrínseco de pertencimento, somos uma centelha de algo único. Somos algo além do ego. Algo mais profundo e genuíno. Por isso Jung reconheceu que existe algo dentro de cada um que é muito mais profundo que a persona, que ele denominou de Self. E é a partir do encontro com o último que conseguimos experienciar nossa individualidade e expressá-la de forma criativa e socialmente aceita.

Gabriel Cop Luciano

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